Foi em 2018, meses depois de concluir o mestrado em psicologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que dei início à minha carreira clínica como psicóloga. Até o primeiro trimestre de 2020, meus encontros com as pessoas que acompanhava em psicoterapia aconteciam em salas físicas, em duas cidades mineiras. Com a chegada da pandemia, eu me desfiz dessas salas e passei a atender remotamente, como fizeram tantas outras profissionais. Naquele novo contexto, de atendimentos individuais e remotos, não demorei a sentir o que já havia escutado tantas vezes: a carreira clínica em psicologia pode ser bastante solitária.
Por isso, em 2021, deixei emergir um desejo antigo, que parece ter sido convocado em meu corpo na relação com uma professora inspiradora, que conheci durante minha mobilidade acadêmica na UFMG: o desejo de trabalhar em grupo. A partir desse desejo, desenvolvi dois projetos no mesmo ano: “Que fique entre nós” e “Shakti”. O primeiro, que desenvolvi junto a uma colega de profissão e amiga muito querida, tratava-se de um grupo psicoterapêutico. O outro, que desenvolvi junto a uma instrutora de Yoga, tratava-se de um retiro voltado ao autoconhecimento e à espiritualidade, na serra de Santa Catarina. Infelizmente, não pude concretizá-los, porque nenhum deles obteve quórum. Apesar da frustração e do constrangimento, celebrei na época o que podia ser celebrado: a iniciativa, a criatividade, as parcerias, o aprendizado, a coragem e, sobretudo, o processo. Afinal, como gosto de me lembrar com Guimarães Rosa,
o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.
Dois anos depois, em 2023, fiz mais uma tentativa: lancei ao mundo um novo projeto para trabalhar em grupo, uma mentoria coletiva que carinhosamente chamei de “Passos à frente”. Eu via na mentoria uma oportunidade bonita e potente para diálogos, reflexões e aprendizados sobre os bastidores da psicologia clínica. Minha expectativa era a de fomentar trocas de experiências, conhecimentos técnicos e, também, de muitos afetos, porque sinto, como bem expressou Valter Hugo Mãe, que
o afeto é o único desengano, a grande forma de encontro e de pertença.
Considerando minha proposta de trabalho para a mentoria coletiva, seriam muito bem-vindas todas as estudantes e as profissionais de psicologia que desejassem exercer sua autonomia para se posicionar eticamente e construir carreiras prósperas como psicoterapeutas.
O projeto repercutiu tão bem que resultou em quatro edições, todas realizadas ao longo do mesmo ano. Os temas trabalhados em cada uma das edições foram: gestão financeira, contabilidade, publicidade profissional e registro documental. As quatro edições aconteceram em formato de imersão, sempre em manhãs de sábado. Após quatro ou cinco horas de encontros, mesmo cansadas, ficávamos eu e as outras psicólogas com aquele gostinho de “quero mais”. Então, depois de receber feedbacks maravilhosos em todas as edições e vários pedidos por encontros regulares, senti o desejo de propor a elas não apenas passos, mas uma verdadeira caminhada...
Por isso, em outubro de 2023, logo após finalizar a quarta e última edição da mentoria coletiva “Passos à frente”, comecei a desenhar um projeto novo. De lá pra cá, contratei duas profissionais de marketing e conversei com quatorze colegas de profissão, psicoterapeutas que trabalham enquanto profissionais liberais e autônomas. Desse processo nasceu o programa LADO A LADO, um programa de acompanhamento e desenvolvimento para psicólogas clínicas que desejam prosperar, empreendendo em comunidade, com ética, leveza e propósito.
Eu dei vida a esse programa, porque acredito que ele pode ser tempo e espaço de profissionais que preferem caminhar acompanhadas, com direcionamento, ritmo, suporte e inspiração. Nesse sentido, o programa se sustenta na minha fé em Clarice Lispector, que afirma que
quem caminha sozinho pode até chegar mais rápido, mas aquele que vai acompanhado com certeza vai mais longe.
Assim como a mentoria coletiva, esse programa tem por objetivo fomentar trocas de conhecimentos, experiências e afetos entre psicoterapeutas que desejam se organizar e se planejar juntas para cuidar cada vez melhor de si mesmas, de suas carreiras e de seus negócios, mas a caminhada também prevê:
Acompanhamento em comunidade durante quatro meses (de abril até agosto de 2024);
16 encontros semanais (nas sextas, de 14h até 16h), on-line e ao vivo;
Acesso à gravação dos encontros;
Duas pausas de quinze dias para acesso às gravações, revisão do material complementar e descanso;
Grupo exclusivo no Whatsapp para trocas e curadoria;
Participação especial de especialistas em áreas como empreendedorismo feminino, branding pessoal, marketing, planejamento financeiro e contabilidade;
Bônus: mentoria personalizada, com duração de 1h, para aquelas que se tornaram parte da comunidade até ontem, dia 16/3/24.
O conteúdo programático foi elaborado com base no tripé a partir do qual pode ser pensada a modelagem de pequenos negócios: entrega, finanças e comunicação. Portanto, durante a caminhada, eu minhas colegas nos encontraremos para discutir, refletir e agir estrategicamente a respeito de temas como: posicionamento para segmentação e diferenciação, prospecção e captação, contrato psicoterapêutico, gestão financeira, precificação, contabilidade e registro documental.
Cora Coralina nos diz que
o que vale na vida não é o ponto de partida e, sim, a caminhada. Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher.
Assim, devem fazer parte do programa, para caminhar LADO A LADO, psicoterapeutas que desejam:
pertencer a uma comunidade que valoriza sobretudo a ética em psicologia, o respeito, a responsabilidade, a autenticidade, a autonomia e a solidariedade;
construir uma rede de apoio profissional para crescer com segurança;
se organizar e se planejar para trabalhar com intenção e estratégias;
se desenvolver para empreender com ética, leveza e propósito;
prosperar como psicoterapeuta, explorando o potencial da sua carreira e do seu negócio.
Depois de meses de muito trabalho, apresentei o programa LADO A LADO para o mundo há duas semanas e agora estou colhendo os frutos ou acolhendo as primeiras inscritas e conversando com quem expressa interesse pelo programa. Quer saber a verdade? Acho muito mais fácil plantar do que colher nesse contexto! Esse período de inscrições é complexo em termos psicológicos e, por isso mesmo, bastante desafiador. Quem já trabalhou com vendas deve saber do que estou falando. E pensar que ainda temos duas semanas de inscrições pela frente… Um momento oportuno para me lembrar do que nos ensinou Guimarães Rosa:
quem elegeu a busca não pode recusar a travessia.
Sinto-me no momento orgulhosa, animada, ansiosa, inspirada, cansada, curiosa… E vulnerável, sobretudo vulnerável. E é assim mesmo que escrevo e me encontro aqui com você, leitora. Sabe o que me serve de afago? As palavras de Brené Brown:
a vulnerabilidade é a nossa medida mais precisa de coragem.
Seja qual for o resultado dessa vez, é com honra, satisfação e profunda alegria que celebro a oportunidade que eu mesma criei de caminhar LADO A LADO com minhas colegas em prol do empreendedorismo feminino na psicologia clínica.
Com respeito e afetos,
Larissa Albertin.